No dia 13 de junho de 1998, pela manhã, minutos antes de entrar na sala para fazer a mais importante de várias cirurgias que fiz decorrente do meu acidente com politraumatismo – causado por uma moto uma semana antes, compreendi a importância de algumas pessoas que me rodeavam e que hoje infelizmente já não estão comigo fisicamente. Quando estamos no afã da nossa juventude tudo que nos importa é o porvir e só um acidente daquele magnitude com 54 fraturas, duas placas colocadas com 27 parafusos, depois de 11 cirurgias – esta era a última dentro de 10 dias – para me fazer perceber que a vida é um sopro e o que vale são as relações construídas com aqueles que fazem parte da nossa vida, no geral, são nossos familiares mais próximos que nos socorrem nestes momentos.
Curioso é imaginar que naquela época eu tinha muita confiança na recuperação, talvez movido pela Fé inabalável e inquebrantável de minha tão amada e saudosa Mãe, Zélia Maia. Fui eu para a sala de cirurgia guiado por meu Pai – Braulio Maia – como a me reafirmar através de gestos que tudo sairia bem como lhe é tão peculiar, um homem embrutecido pela vida, porém tão terno nos seus gestos imperceptíveis aos olhares insensíveis. Ao acordar no quarto vejo meu irmão – Braulito – como a me encarar e a dizer que sempre seria um companheiro/amigo/irmão nas minhas aventuras e devaneios, não sabia eu que o Criador tinha planos para sua vida e que em 2017 sua jornada terrena chegaria ao fim.
Reafirmei na minha essência que se estava tendo uma nova oportunidade, era preciso me reinventar e me redescobrir como filho, pai, irmão, amigo e enquanto pessoa.
Pois é, o tempo passou e quem diria que estaria hoje, 22 anos após, num isolamento social, muito parecido com as circunstâncias que vivia naquele tempo de convalescença, quando ficava deitado na grande maioria do tempo, assistia a muita TV e filmes, lia e só pensava em ver o sol, andar pela cidade, curtir o mar, conversar com as pessoas, viajar e sair de casa. Quantas coincidências nos desejos. Mas, quero dizer a vocês que se aquilo lá que foi tão difícil e doloroso, passou, tenho a convicção de que o tempo mais uma vez será o grande lenitivo para nossa superação. E que assim, como lá em outrora, para mim o afago familiar e de amigos me motivou a ser exitoso, o mesmo agora também funcionará para nós. Juntos sobrepujaremos este vírus tão letal e danoso.
Que fiquemos em casa, se pudermos.