Hodiernamente saía de minha casa logo cedo para ir lecionar Matemática na Escola Municipal Frei Dagoberto Stucker e nesta caminhada, na verdade uma carreada, costumeiramente encontrava um vaqueiro conduzindo gado, algo normal, haja vista morar entre a zona rural e urbana de Campina Grande.
Nestes encontros sempre me remeto automaticamente ao texto “A última crônica” de Fernando Sabino, que faz parte do Livro Para gostar de Ler – Crônicas, Volume 5, da Editora Ática, esta coleção que sempre juntava vários textos de diversos autores como forma de incentivar a leitura, sempre me cativou muito e particularmente este texto de Sabino atingiu profundamente o meu âmago.
Antes de explicar o porquê desta relação, que para mim chega a ser simbiótica, vou transcrever aqui uma parte da Última Crônica ¨Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.”
Somos hoje uma sociedade de multitarefados, principalmente devido à tecnologia que entrou em nossas vidas de forma célere e fomentada pela Pandemia, pois em época de lockdown precisávamos continuar nos conectando com as pessoas e trabalhando de forma virtual. Obviamente que não passaríamos incólumes por termos bombardeado nosso cérebro com várias tarefas e informações ao mesmo tempo. É lugar comum hoje esquecermos de “pequenas coisas”.
Este esquecimento segundo Anthony Wagner, professor de Psicologia e diretor do Stanford Memory Laboratory, pode ser justamente uma consequência da multitarefa. Hoje enquanto assistimos a uma série ou filme vemos as últimas atualizações de nossas redes sociais, estudamos e até trabalhamos e ao mesmo tempo estamos mandando mensagens pelo WhatsApp e ainda terminamos participando de vários projetos simultaneamente.
Além de interferir na nossa capacidade de concentração, memória e atenção a multitarefa agregada ao estresse corriqueiro e o impacto de uma crise econômica na nossa vida, nos faz muitas vezes sermos pessoas irritativas. E, isto me remete a ligação do Vaqueiro com Sabino, sempre que encontro o Vaqueiro no seu cavalo e eu no carro esperando a boiada passar para prosseguir, ele me olha e dá um sorriso contagiante me lembrando que devemos sempre olhar a vida da melhor forma possível e que um sorriso é uma das melhores formas de começar o dia e encarar as adversidades cotidianas.
Até Breve!
Belo texto, Professor
Três encontros no mesmo escrito, o mundo urbano e o rural; a matemática e a literatura e o encontro dos escritores.