Sabe aquelas histórias que a gente guarda no coração, as que “poderiam ter sido”? Elas nos acompanham como ecos de caminhos não trilhados. De repente, uma ligação inesperada, uma mensagem, um texto lido, uma foto ou um lugar pode disparar uma cascata de reflexões sobre pessoas, sobre a vida, sobre o que foi e o que poderia ter sido. Foi em um desses encontros virtuais que percebi o quão presente esse conceito do “poderia ter sido” está em nossas vidas. Seja no amor, na carreira, nas amizades ou até mesmo em decisões pessoais, é comum nos pegarmos pensando “e se…”.
Essas possibilidades perdidas são uma parte inevitável da experiência humana. Elas se manifestam de diversas formas: aquele amor que não foi adiante, a oportunidade de emprego que escapou, a amizade que se desfez por uma palavra não dita. Em cada uma dessas situações, a sensação de que algo poderia ter sido diferente nos permeia, mesmo que, no fundo, saibamos que talvez não fosse para ser. Como bem observou o escritor uruguaio Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.” Essa reflexão não busca um retorno ao passado, mas sim um entendimento do presente.
Essas experiências não vividas — ou, como um grande amigo me disse, os “esqueletos no armário” — podem ter um impacto profundo em nossa identidade e até mesmo em nossa base espiritual. Elas moldam a forma como nos vemos e como encaramos o mundo. Se não forem processadas, podem se transformar em mágoas e arrependimentos que nos prendem ao passado, impedindo-nos de avançar. A dor e o sofrimento gerados por essas memórias podem ser intensos. Eu tive vários “ai se sesse” na minha jornada, em suas diversas facetas. Recentemente, tive contato com uma pessoa que fazia tempo que não via. Tivemos uma relação intensa, porém fugaz — daquelas que deixam marcas indeléveis — e, obviamente, depois desse contato, essas reflexões vieram à tona.
A grande questão é como lidamos com esses “esqueletos”. É fundamental reconhecer que eles fazem parte de nossa história, mas não podem nos definir para sempre. A reflexão sobre o que poderia ter sido diferente é válida, mas deve nos levar a um lugar de aceitação e aprendizado — e não de autopunição.
É um processo de amadurecimento emocional e espiritual entender que, mesmo diante do reencontro com o passado, a importância não está em reavivar o que já foi, mas em perceber o quanto você cresceu e as escolhas que o trouxeram até aqui. A vida é feita de escolhas, e cada uma delas, por mais que traga consigo um “e se”, contribuiu para quem você é hoje.
Liberar-se dessas amarras do passado não significa esquecer, mas sim integrar essas experiências à sua jornada, aprendendo com elas e permitindo-se seguir em frente, sem o peso da mágoa. É um ato de amor-próprio e de cura, que nos permite construir um futuro mais leve e autêntico. Afinal, a vida acontece no agora — e é nele que temos a chance de escrever novas e significativas histórias.
Você já passou por essa sensação de “poderia ter sido”? Em quais situações da sua vida essa reflexão mais te tocou?