Domingo em Brasília. Churrasco com pessoas queridas. O estalar das brasas e o aroma da carne assando embalavam conversas sobre a vida, lembranças do passado — algumas reais, outras reinventadas —, incertezas do presente e debates sobre tudo, inclusive sobre nada.
Em meio a um desses diálogos — ou monólogos, já que alguns insistem em dizer que falo demais —, um olhar atento surgiu, carregado de avidez por decifrar o futuro em um instante. Era o reflexo de quem busca aprender, entender e traçar a própria epopeia. Aquilo me chamou a atenção. O encontro, inusitado e despretensioso, acendeu a vontade de continuar a conversa. Não demorou para combinarmos um reencontro.
Uma semana depois, entre um jantar regado a massas e reflexões, sua busca por se encontrar, se proteger e conquistar seu lugar no mundo tornou-se o centro da mesa. A narrativa era tão intensa que nos tornamos reféns de sua história, compartilhando vivências e descobrindo, juntos, a beleza das conexões genuínas.
Percebo, cada vez mais, que todos precisamos encontrar um elo verdadeiro com quem somos e com o mundo que nos cerca — quase como se buscássemos uma explicação plausível para nossa existência, à luz de onde viemos, onde estamos e para onde desejamos ir. Nossas odisseias pessoais, marcadas pela sobrevivência e superação, ecoam os temas atemporais da grande literatura.
A jornada de Odisseu, na Odisseia de Homero, em sua busca para voltar ao lar, reflete a luta diária para encontrar um lugar em meio ao caos. A complexidade do protagonista de Ulisses, de James Joyce, que atravessa um único dia em Dublin, espelha nossas batalhas internas, em que cada instante se torna um épico de emoções e pensamentos. Já a rebeldia de Holden Caulfield, em O Apanhador no Campo de Centeio, que se recusa a aceitar a hipocrisia adulta, ressoa com o desejo atual de preservar a autenticidade.
Sejam clássicas ou modernas, essas narrativas nos recordam que a resiliência humana é uma travessia constante, e que cada um é protagonista da própria história. Como disse Guimarães Rosa: “O que a vida quer da gente é coragem.” Saí daquela conversa com a convicção de que os tempos se encontram, e que, se há algo de bom na vida, é nos permitir conhecer pessoas, ouvir novas perspectivas, aprender com elas — e, ao mesmo tempo, nos doar para que aprendam conosco. Somos mensageiros de conhecimentos em um mundo que não nos pertence, mas no qual temos a obrigação de sermos melhores e de contribuir sempre.
O eco dessas conversas permanece. Lembra-me que cada pessoa carrega um universo particular, repleto de lições e desafios. É na troca genuína que nossas histórias se enriquecem e nossas epopeias se entrelaçam. A cada encontro, somos coadjuvantes na jornada do outro, e ele, parte da nossa.
E você, o que busca na sua própria jornada chamada vida?