A vida nem sempre avisa quando vai virar do avesso. Às vezes, ela nos força a parar, refletir, repensar — e, acima de tudo, recomeçar. Foi exatamente o que aconteceu comigo, três vezes. E, aqui, brinco: um matemático não cai, conta. E eu contei: três acidentes graves marcaram minha trajetória e me ensinaram lições profundas. Vejo a vida em números: fraturas, placas, parafusos, datas, coincidências que se repetem. E é curioso: enquanto a mente busca conforto na exatidão dos cálculos, o coração se perde tentando encontrar sentido no caos. Entre a frieza dos números e a intensidade da dor, percebo que até o ato de contar pode ser, paradoxalmente, uma forma de sobreviver — e de dar sentido ao que nos acontece.
Em 1998, vivi o episódio mais traumático da minha vida: um acidente de moto que me deixou politraumatizado, com 54 fraturas pelo corpo. Meu lado direito ficou seriamente comprometido, e carrego até hoje 26 parafusos e duas placas como lembranças físicas desse momento. A recuperação foi longa e dolorosa, exigindo meses de fisioterapia, mas me mostrou que o corpo guarda uma força surpreendente — e a mente, mais ainda.
Anos depois, veio mais uma queda. Escorreguei, bati a coluna e sofri fraturas, hérnia e a necessidade de cirurgia. Foi mais um período de dor e incerteza, mas também de fé: fé no tratamento, no tempo e na minha própria capacidade de me reconstruir.
O terceiro acidente aconteceu recentemente: caí do primeiro andar da minha casa, em Brasília, direto para o térreo. Sofri uma pancada forte na cabeça (foram dez pontos), fraturei o braço em três lugares e precisei de cirurgia na mão, com a colocação de três placas e parafusos. Mais um choque físico e emocional — mas também uma oportunidade de pausa, de aprendizado e, novamente, de recomeço. Cada uma dessas experiências chegou em fases distintas da minha vida e, com a maturidade, aprendi a encarar a dor com mais serenidade, compreendendo que precisamos aceitar e conviver com aquilo que não pode ser mudado.
A dor, muitas vezes vista como inimiga, pode ser catalisadora de introspecção e de mudanças profundas. Ela nos obriga a reavaliar prioridades e confrontar a própria vulnerabilidade. Foi essa percepção que me conectou à filosofia de Nietzsche.
Em vez de se colocar como vítima, Nietzsche fez do sofrimento um eixo central de sua filosofia. Para ele, a dor não era algo a ser evitado, mas parte essencial da existência humana. Dessa vivência nasceu o conceito de amor fati — o amor ao destino: a ideia de que devemos abraçar e amar tudo o que nos acontece, inclusive o sofrimento, como parte de nossa jornada. A dor, nesse sentido, é a grande professora que nos permite alcançar uma compreensão mais profunda da vida e uma força que a facilidade jamais proporcionaria.
Esse conceito, no entanto, não se resume a uma aceitação passiva do destino, como se bastasse cruzar os braços diante dos acontecimentos. Pelo contrário: exige engajamento ativo. É a decisão consciente de não apenas suportar o necessário, mas de acolher tudo isso. Essa atitude tem o poder de transformar nossa percepção: deixamos de nos ver como vítimas e passamos a reconhecer cada evento — bom ou ruim — como parte essencial de quem somos.
Acredito que precisamos dizer “sim” à vida, em sua totalidade, com todas as tragédias e os triunfos. Essa mudança de perspectiva é a verdadeira transformação: liberta do ressentimento e nos permite usar o sofrimento como alavanca para crescer e construir uma vida mais autêntica e significativa.
Hoje compreendo que, quando a vida nos obriga a parar, ela nos convida a olhar para dentro. Crescemos acreditando que tudo é urgente, que precisamos estar sempre ativos e produzindo. Mas os acidentes me ensinaram que, às vezes, parar é justamente o que nos salva.
Além das marcas físicas e emocionais, esses eventos trouxeram coincidências curiosas — todas envolvendo o número 13. O acidente mais recente foi em uma casa de número 13, no conjunto 13, em Brasília. A cirurgia na mão ocorreu no dia 13, e nela foram colocados 13 parafusos. Fiquei internado no quarto 113 da Unimed. E, não por acaso, o 13 me acompanha também no meu time de coração, o Treze de Campina Grande, e no número do partido ao qual sou filiado.
O número 13, para muitos, carrega a fama de azar, mas sua conotação negativa não é universal. Em outras culturas, é sinal de sorte e de poder espiritual, associado à transformação e à renovação. Essa dualidade revela a riqueza das crenças humanas, mostrando que o destino de um número depende, em última análise, da lente cultural pela qual é visto.
Eu, particularmente, acredito que essas coincidências têm mais a ver com o momento de renovação que vivo. Coincidência ou não, esses sinais me fizeram refletir sobre os caminhos misteriosos da vida.
Como disse Søren Kierkegaard: “A vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas só pode ser vivida olhando para a frente.”
Hoje reconheço que tenho mais passado do que futuro — e está tudo bem. Essa consciência apenas reforça minha vontade de viver cada minuto com presença, verdade e leveza. Nem tudo tem a importância que damos. O essencial está nas conexões humanas, nos momentos simples, nas pausas que a vida impõe e, principalmente, na nossa capacidade de nos refazer — por fora e por dentro.
E você? Já precisou parar à força? Que transformação isso trouxe para sua vida?
Sempre em frente caro amigo. Me passa o Cartão de Visitas do seu Anjo de Guarda! Rsrsrsr
Uma pausa pode ser uma forma estratégica de realinhar a rota para um caminho mais perto de nós mesmos. Muita vezes, um passo pra trás são dois pra frente.