Passei muitos anos como gestor público, em experiências que me levaram a ocupar diversos cargos na prefeitura e no governo do estado. Foram jornadas intensas e enriquecedoras, mas minha profissão de origem sempre me chamava de volta: professor de Matemática. Em algum momento, lá atrás, senti a necessidade de retornar a essa vocação. A transição de uma vida atribulada para o ambiente da sala de aula foi mais do que uma escolha profissional; foi um reencontro.
Foi assim que voltei para minha cidade natal, Campina Grande, e me refugiei na Granja Baraúnas. Esse lugar, que antes era apenas um porto seguro para me desconectar, se transformou em um limbo de paz — espaço ideal para reflexão, reencontros e, talvez, recomeços.
Nesse período, me dediquei a lecionar em uma escola municipal e a me aproximar da comunidade local. Foi uma experiência transformadora, que me deu tempo também para a leitura, uma das minhas paixões. Foi quando redescobri Walden, A Vida nos Bosques, de Henry David Thoreau. Sua célebre frase — “Fui para os bosques porque queria viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se eu não poderia aprender o que ela tinha a ensinar, e não, quando eu morresse, descobrir que não tinha vivido” — ressoou profundamente em mim. Minha experiência na Granja Baraúnas foi exatamente isso: a oportunidade de viver de forma mais autêntica. Hoje, já morando em Brasília, sigo voltando à Baraúnas durante férias e feriados, mantendo-a como refúgio de pausas.
Na correria cotidiana, muitos de nós sentimos a pressão para sermos mais produtivos e, ao mesmo tempo, a paralisia diante do mar de opções. Eu mesmo vivi isso, e foi dessa percepção que nasceram os artigos “O Tempo e a Sede de Viver” e “A Perdição das Escolhas”. Embora à primeira vista pudessem parecer textos independentes, minha intenção sempre foi uni-los. E a peça que faltava surgiu em uma conversa inesperada com uma conterrânea de Campina Grande. Ela confidenciou a dificuldade de viver de forma minimalista, pois se sentia atraída por um mundo mais colorido, até consumista, como uma maneira de preencher vazios.
Essa fala ecoou em mim. Percebi que o foco não deveria estar apenas em como fazer mais em menos tempo ou em como escolher entre tantas opções, mas em algo mais profundo: como viver de forma intencional, com significado.
O design da vida é essa ponte — ele transforma a tensão entre a gestão do tempo e o paradoxo da escolha em busca de propósito. Em vez de perguntar “como gerenciar o tempo?”, a questão passa a ser: “tempo para quê?”. A gestão do tempo deixa de ser corrida pela produtividade e se torna ferramenta para objetivos mais profundos. Quando o propósito está claro, o tempo deixa de ser um peso e se converte em um ativo direcionado, que orienta escolhas e torna a priorização mais intuitiva.
Da mesma forma, o design da vida funciona como filtro contra a paralisia da escolha. Em vez de nos deixarmos sufocar por infinitas opções de carreiras, hobbies e informações, ele nos ajuda a dizer “não” de forma consciente. Ao sabermos o que realmente importa, as opções se reduzem naturalmente a um conjunto mais gerenciável, alinhado a valores e intenções.
O filme Click (2006), estrelado por Adam Sandler, retrata essa reflexão de forma poderosa. O protagonista, Michael Newman, ganha um controle remoto universal que lhe permite avançar e retroceder no tempo. No início, usa-o para pular momentos tediosos — discussões familiares, reuniões de trabalho. Mas essa “escolha infinita” de evitar o desconforto o leva a uma vida que ele não reconhece mais. O filme nos lembra de que delegar ao atalho a função de gerir nosso tempo traz consequências: ao pular etapas, perdemos não apenas experiências, mas a oportunidade de sermos moldados por elas.
Thoreau resume esse conceito com precisão: “O preço de qualquer coisa que você faz é o tempo que você troca por ela.” Essa afirmação nos obriga a enxergar o tempo como nossa moeda mais valiosa, limitada e insubstituível. Cada escolha consome uma fração dessa riqueza, e cada renúncia tem um custo existencial.
O design da vida, com sua clareza de propósito, nos permite fazer essa troca de forma intencional — transformando tempo em experiência, escolhas em significado.
Se o tempo é nossa moeda mais valiosa, como você tem investido a sua — em vez de apenas gastá-la?
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Muito bom