Chegar a Campina Grande nesse último fim de semana de São João foi, como sempre, um misto de emoções. A cidade que me viu nascer e crescer, onde construí boa parte da minha história, me recebe novamente com o calor e a efervescência do Maior São João do Mundo. É inevitável não sentir uma onda de nostalgia ao caminhar pelas ruas, reencontrar rostos familiares e reviver memórias em cada esquina.
Este São João, em particular, tem um sabor especial de reencontro e perda, pois foi o primeiro em que não estive na cidade durante o período junino. Rever a cidade de origem é como folhear um álbum de fotografias antigas, cada imagem evocando um pedacinho da minha trajetória. Sinto o cheiro do milho cozido, da pamonha e da canjica, ouço o forró ecoando nos recônditos da cidade e me permito mergulhar nessa atmosfera única que só Campina Grande sabe oferecer nesta época do ano.
Este ano, ufa, finalmente consegui ir ao Parque do Povo, mesmo que após o São João e São Pedro. A energia é contagiante! E para completar a experiência, não poderia faltar o autêntico forró pé de serra no Sítio São João, revivendo a tradição que tanto amo. Encontrar amigos e familiares, saborear a gastronomia local – da fava, da galinha de capoeira na cabidela à carne de sol – tudo isso alimenta a alma e reforça os laços, fazendo a gente se sentir revigorado.
No entanto, há uma clareza que se manifesta nesse retorno. Enquanto o passado se faz presente, percebo a dicotomia entre as minhas raízes em Campina Grande e a minha vida atual em Brasília. A capital federal se tornou, de fato, o meu refúgio, a minha atual morada, o lugar onde também me sinto em casa. Essa percepção não diminui em nada o carinho e o apego que sinto por Campina Grande; pelo contrário, ela apenas reforça a ideia de que o coração pode ter múltiplos lares, e cada um deles, à sua maneira, nos molda e nos completa.
É uma sensação peculiar e surpreendente perceber que o sentimento de pertencimento a Campina Grande já não é tão intenso quanto eu imaginava. Essa nova perspectiva cria um certo desapego, mas não de uma forma negativa. É mais como uma aceitação natural de que a vida segue e que novos lugares se tornam igualmente importantes, estabelecendo uma nova relação de carinho e afeto.
E, como se não bastasse todo esse turbilhão de emoções, tive a oportunidade de reacender uma paixão antiga: a de dar aulas. Depois de um bom tempo afastado, retornei para um Aulão de Raciocínio Lógico do Aprovação Cursos, cursinho que criei, para professores que farão concurso para o magistério Estadual, no Teatro Municipal. Na coxia, o ar carregado de memórias e a ansiedade boa. Um passo à frente, e o palco me abraça, suas luzes me envolvendo. O olhar na plateia — rostos atentos, expectantes, cada um uma descoberta a ser revelada. No primeiro instante, a respiração suspensa, o coração acelerado. Então, a voz encontra seu tom, e a aula começa, fluida, natural. A caneta na mão, um prolongamento do pensamento, traça caminhos no quadro. Cada explicação, um elo de conexão, cada questão resolvida, um sorriso que brota na compreensão. A interação com os alunos — perguntas, risadas, aquele brilho no olhar de quem entende — é a melodia que embala o aprendizado. Um bailado de ideias, um palco de descobertas. Ah, a docência! Um reencontro que ecoa, um amor que revigora. Essa viagem, agora, completa, enriquecida pela doce melodia de ensinar.
Este fim de semana é, portanto, uma celebração de ambas as realidades: a das minhas raízes fincadas no solo paraibano e a do meu lar construído no Planalto Central, somadas à redescoberta do prazer em ensinar. É a beleza de poder transitar entre esses mundos, guardando em mim a riqueza de cada um deles. O Maior São João do Mundo realizado aqui em Campina Grande não é apenas uma festa; é uma ponte que conecta o meu passado, o meu presente e a complexidade do meu ser, lembrando-me que o verdadeiro pertencimento está na capacidade de nos sentirmos bem onde estamos e no que fazemos.
A minha experiência em Campina Grande, mistura a nostalgia do reencontro com as raízes, a consciência de que o lar de morada agora é outro e o prazer de reacender uma paixão, ecoa uma ideia de reflexão sobre pertencimento, fluidez e a importância de estar no presente. Como escreveu Clarice Lispector:
“Onde quer que eu esteja, estarei. Meu corpo onde quer que eu esteja, estará.”
Essa frase, embora sucinta, ressalta a ideia de que o “estar” é mais do que uma localização física; é um estado de ser, de presença e de identificação que pode se manifestar em diferentes lugares ao longo da vida. Ela sugere que o pertencimento se constrói e se transforma, e que o lar é, em última instância, onde a nossa essência se estabelece e onde encontramos propósito, como no reacender da paixão por lecionar.
Houve alguma paixão ou atividade que você deixou de lado e que, ao ser reacendida, trouxe uma satisfação inesperada para sua vida?
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Texto com muita integração. Pertencimento. A ponto de esbanjar emoção ao leitor. Parabéns.
Brasília, e Fábio Maio deram um daqueles “match” que não se encontra em site de relacionamento nenhum. Daqueles bateu, valeu.
E agora lhe resta alguns “dates” com a inesquecível “Campina” porque o primeiro amor ninguém esquece.